Sex Education segue Otis, um virgem do ensino médio socialmente desajeitado que vive com sua mãe que é uma terapeuta sexual. Ele se junta a Maeve, que é inteligente e esperta, “para montar uma clínica para lidar com os problemas estranhos e maravilhosos de seus colegas estudantes.
O novo sucesso indie da Netflix lembra bastante outra série muito bem elogiada pelo público jovem, lembra de The End of The F***** World?. Os pontos em comum ficam restritos apenas a temática teen indie britânica e a trilha sonora oitentista . Sex Education aborda temas pertinentes dentro do nosso cotidiano, afinal todo jovem acaba passando pelas mesmas situações, independente da época ou da tecnologia.
Com um olhar muito sensível a série aborda homofobia, preconceito, aborto, auto conhecimento do próprio corpo, liberdade de escolhas, problemas sexuais, afetividade masculina, pressão psicológica por parte de pais frustrados que depositam esperanças pessoais nos filhos, ansiedade e etc. A gama de assuntos abordados nos míseros oito episódios da série são o suficiente para deixar um gosto de quero mais muito grande.
A Netflix tem lançado conteúdo com muita frequência e tem sido cada vez mais necessário peneirar o que sai no serviço de streaming em busca de algo que realmente vale a pena do inicio ao fim, no momento atual Sex Education é essa série. Adolescentes no ensino médio é uma temática que rende filme desde os anos 80 e não parece ter caído na mesmice ainda.
A amizade entre Otis e Eric é completamente interessante. Estamos falando de um homem hétero e branco que é melhor amigo de um homem negro e gay, as realidades enfrentadas por ambos são completamente diferentes e o ouro dessa amizade é justamente o quão óbvio é essa diferença. O Otis conforme vai entendendo que em certas situações ele e Eric são vistos de maneiras diferentes e para o gay negro as coisas são bem mais difíceis. Um branco ciente de seus privilégios torna a série muito mais interessante, a julgar pelos tempos em que vivemos no Brasil. A amizade é um lema interessante da série e a maneira como os melhores amigos da série são bem opostos só deixa ainda mais escancarado que a diferença social atrai olhares completamente diferentes da sociedade. Outro exemplo é a amizade da Maeve com a Aimee, uma garota rica que pouco se esforça para estudar e ainda assim ninguém duvida da capacidade dela, do outro lado uma jovem estudiosa, que secretamente faz trabalhos para outros colegas em troca de dinheiro para ajudar no sustento e na primeira oportunidade é questionada sobre colar o trabalho dos outros, não existe nem uma suspeita ou ideia de inocência. Esses pontos sutis funcionam para compor um roteiro que embora adolescente não perde uma chance de fazer questionamentos sobre a sociedade.
Sex Education fala sobre ansiedade, sobre a pressão que os pais colocam nos filhos na intenção de realizarem o que eles mesmos não conseguiram. Vai contra o estereótipo do jovem perfeito mostrando que toda família tem defeitos, que a pressão nos jovens sem um acompanhamento psicológico pode trazer danos perigosos. E cria ainda um romance que é um charme, afinal ninguém é de ferro.
Estamos em 2019, não existe a menor necessidade de não abordar esses temas em séries teens, normalizar relacionamentos de outros sexos não deveria ser mais do que normal. A série faz isso com primor. Coloca um casal de lésbicas sem precisar ficar batendo na tecla e gritando “ei somos lésbicas presta atenção aqui”, inclusão é isso também. Normalizar as situações que deveriam ser normalizadas desde sempre.
A série fala sobre temas sexuais de fato, expõe micos que a falta de informação causa, mas tudo isso dentro dos problemas enfrentados pela idade. Conhecimento do próprio corpo, ausência de romance, excesso de romance, como traumas sofridos na infância podem dificultar a vida adulta e os problemas podem ser ainda maiores.
Sex Education tem uma temporada com oito episódios de cerca de 40 minutos, é pouco pela quantidade de coisa boa que a série aborda, mas cria aquele gosto de quero mais que tem feito falta com a quantidade de série disponível por ai.
Vale a pena dar uma chance para a melhor série que entrou no catálogo do serviço de streaming até agora em 2019.
Autor do Post:
Yara Lima
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Uma das fundadoras da Tribernna, estudante de comunicação social, nordestina e periférica. Divide o tempo entre ler, dormir e escrever por ai!