Em meio a tantos filmes de super grupo, é normal achar que Capitã Marvel soe um tanto inferior. Mas a comparação não é nenhum pouco justa, visto que o certo é comparar com aventuras solo como Homem-Formiga, Capitão América, Thor e Homem de ferro. Filmes que vão além da história grupal e seguem sua trajetória própria se limitando a iniciar e concluir arcos menores que falem mais sobre quem são os heróis do que sobre a importância que tem para o mundo ou o quanto afetam a humanidade.
Capitã Marvel funciona como uma aventura solo que vai além da história de origem clássica baseada na jornada do herói. Por vezes o filme segue a narrativa padrão de auto descoberta, decepção com quem mais confiava, perder uma luta, descobri que é mais poderosa do que imaginava, vencer a luta. Quando se propõe a seguir esse padrão o filme consegue acertar, mas além disso ele consegue contar uma narrativa de espionagem, traçar paralelos que o liguem ao universo dos vingadores e ainda introduzir personagens já conhecidos com personalidades diferentes que também funcionam muito bem.
Talvez o maior erro do filme seja a dificuldade em se importar com a personagem principal, embora precise passar por um momento de superação, a narrativa da Carol Danvers não é exatamente algo que desperte o interesse do telespectador. Mas existe uma necessidade de se importar? Nem no momento mais fraco a personagem parece alguém derrotada e estamos acostumados a sentir empatia pelo herói quando ele fracassa, quando parece vulnerável. Nos espelhamos naquela história de superação e a falha de Capitã Marvel é não nos dar a oportunidade de se ver naqueles momentos, de se importar se ela vence ou não a luta porque parece existir uma arrogância. O outro ponto de vista é que não estamos acostumados a ver uma heroína independente e que não tem vergonha de mostrar isso. Em certos momentos onde as coisas parecem dar errado ela passa a mensagem de força, sempre se levantando quando cai. É o momento que equivale a Terra de Ninguém em Mulher Maravilha, o momento onde abraça o girl power e tenta passar a imagem de empoderamento que, durante todo o filme, fica apenas no quase.
Embora Capitã Marvel seja o primeiro filme de heroína do estúdio, é impossível não comparar com Mulher Maravilha, cuja personalidade doce e ingenuidade faz com que o telespectador se importe e se preocupe com as suas vitórias e suas derrotas, independente dos seus poderes e habilidades de luta serem extremos. Ao mesmo tempo em que a todo instante passa a mensagem de empoderamento, de força e união feminina. Coisa que Capitã Marvel faz com muita segurança, sempre evitando escancarar esse poder feminino. Em certos momentos parece existir um medo do público, afinal o conceito de diversidade vem sendo integrado na Marvel a pouco tempo, mas após Pantera negra abraçar a causa e executar com tanta maestria era de se esperar que Capitã Marvel passasse um pouco mais de segurança nesse passo para tornar a casa das ideias um ambiento mais incluso e diverso.
A interpretação de Brie Larson não é dócil e isso só dá a heroína mais poder, porém falha nos momentos que tenta demonstrar empatia e amor. Toda a sua relação com sua melhor amiga e até mesmo a criança que a vê como uma tia parece superficial demais, como se não houvesse de fato uma importância da parte dela, mesmo após recobrar sua memória e entender o que houve ela ainda parece apática as relações sociais que a cercam. Porém isso quebra um pouco nos momentos de interação com Fury, talvez a química com o Samuel L. Jackson tenha sido o fator principal para os momentos em que a Capitã Marvel consegue parecer de fato uma humana.
O filme tem o papel de introduzir a heroína, mostrar que sua força é equiparável a do Thanos, criar uma relação forte o bastante com o Fury para justificar sua aparição, mostrar um plot que explique porque ela estará fora da terra durante as outras batalhas que os vingadores enfrentaram ao longo desses 10 anos de universo compartilhado, contar um pouco sobre a tão desconhecida guerra Kree-Skrul e ainda funcionar como uma história de origem para nos mostrar quem é a piloto Carol Danvers e como ela se transformou na Capitã Marvel. O filme consegue acertar e realizar as suas propostas, e ainda criar um espaço para que a protagonista brilhe em um futuro que vai além dos vingadores.
A direção é comandada por Anna Boden e Ryan Fleck e a dupla conseguiu mostrar a essência da personagem e, embora segure bastante nas críticas nessa questão do empoderamento feminino, conseguem mostrar críticas as situações machistas de uma maneira que soe natural sem brincar com a situação, apenas com os motivos que a causam.
Capitã Marvel vai além de uma história de origem e consegue cumprir as promessas que faz deixando claro que a heroína tem muita história para contar e que seu destino no estúdio está mais do que traçado.
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Autor do Post:
Yara Lima
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Uma das fundadoras da Tribernna, estudante de comunicação social, nordestina e periférica. Divide o tempo entre ler, dormir e escrever por ai!