Eu gosto de romances, principalmente os contemporâneos e de fácil leitura – talvez por isso eu tenha tanta dificuldade com aqueles que se passam na antiga Inglaterra. “A Anatomia de um Coração”, escrito por Jenn Bennet e publicado no Brasil pela Plataforma 21, segue nessa linha contemporânea e é um bom passatempo.
Bennet escreve bem. O desenvolvimento da história acontece de forma rápida, os personagens têm carisma e personalidade, os diálogos são divertidos, assim como as situações apresentadas no decorrer das páginas. Mas, admito que a todo momento parece que falta algo. Muita coisa parece simplesmente estar sendo jogada ali.
Começando pelo início, Jack e Beatrix se conhecem logo nas páginas iniciais e, do nada, têm uma conexão instantânea – o que eu acho fofo, inclusive. Mais tarde, sem nenhuma surpresa, vemos que essa conexão é graças à arte – e isso não é spoiler, acreditem em mim.
O romance deles é, sem nenhuma surpresa, fofo e clichê. Tudo acontece conforme o esperado, sejam as partes boas ou as já esperadas reviravoltas. Isso faz com que o livro seja menos divertido? Não. Continua gostosinho e fácil de ler. Mas não atende qualquer mínima expectativa de quem quer um pouquinho a mais.
Um dos pontos positivos, para mim, foi a descrição da cena de sexo (não estou citando nomes aqui). Enquanto alguns autores/autoras perdem páginas e inúmeros parágrafos detalhando tudo, Bennet não comete esse erro. Deixa a cena bem bacana, inclusive, desenvolvendo com naturalidade.
No entanto, se o ponto baixo do livro é o abuso dos clichês – e isso nem é uma reclamação, pois não espero nada muito diferentes em obra desse estilo -, o ponto mais alto são os seus personagens. Beatrix, ou Bex, é divertida. A história é desenvolvida sob a sua ótica, sendo narrada por ela, e é interessante viajar por seus pensamentos enquanto tudo vai ocorrendo.
Jack, por sua vez, rememora um pouco os príncipes encantados do imaginário romântico. O cara tem um total de zero defeitos, como vai sendo demonstrado no decorrer do livro. “Ah, Henrique, mas ele fez coisa x” – tem motivo. “E coisa y?” – tem motivo. Felizmente, Bennet teve certo cuidado de humanizá-lo em determinado momento e não colocá-lo num patamar absurdo, pois já estava pensando que estava lendo uma versão literária de Rodrigo Hilbert.
Outra personagem que teve desenvolvimento foi a mãe de Bex, a enfermeira (que eu já esqueci o nome, pois sou uma pessoa horrível para nomes). Ela é humana. Cometeu erros e acertos, vestiu a capa de mãe e cuidou dos seus filhos como achou melhor. Você pode concordar ou discordar das suas ações, mas você a reconhece como uma mãe, como um ser humano. E acho isso perfeito.
Por outro lado, por mais que não fossem super importantes para a história, acho que faltou mais desenvolvimento para outros nomes que poderiam ter tido um espaço maior, em especial Heath – o irmão de Beatrix – e Sierra – que até teve um final bem legal, mas que merecia ter mais de sua história contada. Já outros personagens foram apenas jogados por ali, como Andy e um grupo de jovens festeiros, mas também não fariam grande diferença e nem se tornaram interessantes ao ponto de instigar sinceramente a curiosidade das pessoas.
Felizmente, para pessoas que, assim como eu, não aguentam mais triângulo amoroso em livros de romances atuais, esse é um clichê que “A Anatomia de um Coração” não comete. Obrigado, Jenn Bennet e Plataforma 21 por isso, inclusive.
“A Anatomia de um Coração” é uma obra divertida e fofa. Não vai te fazer repensar sobre a vida e nem ter grandes divagações filosóficas a respeito de diferentes assuntos, mas é um bom passatempo, que é o que este livro se propõe a ser. Leitura fluida, fácil e sem enrolações desnecessárias.