Após um ano repleto de movimentos que fizeram o mundo, finalmente, parar e prestar atenção aos crimes raciais que vem acontecido diariamente há séculos, “Judas e o Messias Negro“, estreia nos cinemas para mostrar a relevância da união e a ameaça daqueles que se opõem.
O filme explora a história da ascensão e queda de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras. No entanto, acaba se tornando uma ameaça para o FBI que infiltra William O’Neal (LaKeith Stanfield) para enfraquecer o movimento por dentro.
O potencial que o filme carrega em retratar uma história tão forte, pesada e representativa é imensurável. E logo no começo o diretor Shaka King mostra a sua capacidade de externar toda potência que o movimento dos Panteras Negras carregava (carrega) em si. Há de perceber sua assinatura nos cortes precisos de câmera e na narrativa que escolheu tomar no começo do longa. No entanto, Shaka acaba se perdendo e peca no excesso.
O excesso de explicações e cenas detalhadas que poderiam ser descartadas fazem o filme se tornar monótono e um pouco chato. Por muitas vezes o filme perde o ritmo intenso que tem para inserir uma cena que não adiciona muito na narrativa, quebrando o clima construído e podendo fazer o espectador se frustrar.
Uma escolha ruim da trama foi fazer do Judas (Stanfield) o protagonista do longa. Seu desenvolvimento não é dos melhores e não há algo além do que sentir ódio pela sua traição. Penso que se a história tivesse sido focada no Messias (Kaluuya) traria uma narrativa mais atrativa e dinâmica. Fred foi um personagem cativante, energético, inspirador e repleto de camadas capazes de transformá-lo em um personagem além de alguém que discursava eloquentemente bem.
Não poderia de deixar de mencionar a trilha sonora SURREAL do filme. Aconselho ouvir o álbum, mesmo que você não tenha assistido o filme. Além de estar completamente coeso e coerente com a proposta do filme, as faixas uma após a outra funcionam como uma história louvável. É capaz de criar uma experiência imersiva e não haverá uma faixa sequer que você queira pular. A trilha sonora conta com grandes nomes da música, como Jay-Z, A$AP Rocky e H.E.R.
Ainda sobre o enredo do filme, não ouse pensar que ele se limita entre os dois polos que deram o seu nome, Messias e Judas. O longa consegue trazer com sucesso o ódio cego do poder da polícia aos negros, a covardia, o sangue frio e por consequência a revolta da população, a motivação para mudanças e o desejo de ter uma vida melhor.
O filme se encerra com chave de ouro ao mostrar o que aconteceu na vida real, com imagens reais, o longa ganha novamente a atenção do espectador ao lembrá-lo que aquilo é uma história real. Assim, o filme ganha ao fim um peso maior do que teria se não lembrasse a audiência de que estavam retratando vidas reais e as suas perdas.
Posso dizer que “Judas e o Messias Negro” consegue chocar, emocionar e até mesmo enfurecer aqueles que absorvem a mensagem que o filme passa. É revolucionário como o movimento que foi inspirado, é revoltante como a traição e abuso da força policial, e é inspirador como seus discursos.
“Judas e o Messias Negro” concorre em 06 categorias do Oscar deste ano, incluindo o de “Melhor Filme“. Caso você queira assistir, o filme está disponível apenas nos cinemas (aqueles que estão abertos).
Nota: 3,9/5
Autor do Post:
Ludmilla Maia
administrator
25 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.
Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.