É no mínimo intrigante assistir a história de trigêmeos que se reencontram aos 19 anos, após terem sido separados com poucos meses de vida. No entanto, o documentário “Três Estranhos Idênticos” (Three Identical Strangers) vai um pouco além da emoção do encontro, ele flerta com uma época obscura da raça humana, onde humanos eram testados como ratos de laboratório.
Antes de tudo, vale mencionar que a montagem do documentário é fantástica. A história cria uma narrativa que realmente entretém, é contada de uma forma que você não prevê o pior que está por vir, é possível ver claramente, através de filmagens da época e entrevistas com os envolvidos, como o reencontro dos trigêmeos afetou a vida deles e de quem estava em volta. Com pouco menos de meia hora você já fica totalmente familiarizado com os protagonistas da história, ao ponto de sensibilizar com tudo que acontece em sequência.
Como mencionado, a história evolui de forma gradativa, vemos a ascensão dos irmãos que ficam extremamente populares nos 80, ao nível de fazer uma “ponta” no filme da Madonna. E também vemos a queda, não da popularidade, mas de suas vidas que são afetadas pela descoberta de seu passado.
No entanto, quando a euforia da fama cessa, quando o peso das responsabilidades de ser um adulto chegam e o relacionamento dos trigêmeos são afetados, descobrimos que não foi por acaso que eles foram separados quando tinham apenas 6 meses de vida.
Descobrir que Eddy, Robert e David foram parte de um experimento científico é o grande choque do documentário. A história beira o surrealismo, senão fosse pelas incontestáveis provas que o documentário exibe. Relato de pessoas envolvidas e alguns documentos da experiência em si, que consistia em observar o crescimento dos irmãos e entender o que surtia mais efeito na vida dos seres humanos: a genética ou o ambiente.
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“Parece uma história da Disney”, solta um jornalista no documentário. “É muito mais sombrio”, corrige uma das gêmeas, também vítima da experiência.
Acontece que não foram apenas os trigêmeos que foram vítimas dessa experiência que flerta com o eco nazismo. O documentário apresenta brevemente duas irmãs gêmeas e expõe que até hoje em dia deve existir gêmeos ou trigêmeos separados na maternidade que não fazem ideia de que foram objeto de um estudo sem um pingo de humanidade.
É claro que isso teve um efeito gigantesco na vida dos trigêmeos, o mais grave deles foi a morte de um dos irmãos. Isso tudo em troca de nada, porque até hoje o estudo não foi publicado e não há o interesse de publica-lo tão cedo, quer dizer, não enquanto as vítimas do experimento estiverem vivas.
O documentário em sua 1h30m promove debates éticos e moral, expõe a podridão da humanidade e causa revolta ao mostrar o descaso com que as vítimas são tratadas ao serem restringidas de ler na íntegra os documentos pelo qual foram objetos de estudo.
Isso acontece ainda hoje, em 2021, quando pensamos ter evoluído ao ponto de tratar pelo menos as pessoas com um pingo de humanidade. No entanto, estamos distante dessa realidade, porque entre os anos 60 e 80, um psicólogo que flertava com ideias fascistas resolveu usar inúmeros bebês para realizar uma pesquisa em benefício próprio e que talvez nunca acharemos uma conclusão para isso.
“Três Estranhos Idênticos” é um documentário que desperta intensas emoções, da felicidade e surpresa em um reencontro extraordinário, a raiva e tristeza, após as descobertas que nos fazem questionar quão podre o ser humano pode ser.
Você pode assistir na Netflix.
Nota: 4/5
Autor do Post:
Ludmilla Maia
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25 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.
Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.