CRÍTICA | “Lovecraft Country” retrata racismo através de fantasia sobrenatural

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Existe uma maneira melhor de realizar uma reparação histórica (literária) do que utilizar um universo criado por um racista protagonizada, agora, por um elenco majoritariamente negro? Se existe, desconheço.

Lançada em 2020 pela HBO, “Lovecraft Country” traz elementos de fantasia, ficção científica e terror do universo criado por H.P Lovecraft, porém a minissérie é baseada no livro “Território Lovecraft”, escrito por Matt Ruff. Ambientado nos anos 50, a história segue  Atticus Turner (Jonathan Majors) em uma jornada de descoberta pela sua própria história.

Dentre os 10 episódios, a série consegue prender o público criando arcos que mesclam a realidade com o sobrenatural. Em um momento vemos o bizarro, com monstros gigantes e rituais de feitiçaria, e em outro momento vemos o horror do racismo e a impunidade que os brancos carregam a cometer crimes imperdoáveis. 

“Lovecraft Country” pode ter a essência do terror sobrenatural, mas sua história é sobre a população negra, não só sobre suas dores, mas sobre sua excelência. A todo momento vemos o poder que a linhagem de Atticus carrega, todo seu poder e glória e de tudo que conseguiram realizar com a magia, como proteger gerações futuras. Isso tudo durante anos e anos de segregação, crimes de ódio e os piores danos que o racismo e a homofobia podem causar. 

Apesar de absolutamente todos os episódios serem extraordinários, não poderia deixar de comentar sobre o episódio 9, “Meet Me in Daegu“, episódio focado em Ji-Ah (Jamie Chung). Essa etapa da série se faz presente como um flashback da história de Atticus na guerra da Coréia. É aqui que acontece o ápice da fantasia e do drama da série, a história da lenda da raposa de nove caudas é contada em uma narrativa surpreendente, e é claro, o desempenho de Chung é um dos grandes responsáveis por esse episódio ser um dos melhores da temporada.

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Vale mencionar que a criação e o desenvolvimento dos personagens são um dos pontos extremamente positivos da série. Não há personagens rasos demais para uma história tão intensa, há redenção, camadas distintas e conflituosas e arcos condizentes com suas personalidades e histórias individuais. 

A série consegue se destacar em tudo que se propõe a fazer. Quando há necessidade de explorar o terror, a trama consegue impor elementos visuais que enfatizam a proposta. E não se limita a isso, o episódio 7 é a prova disso. Ao abordar a ficção científica de modo que empodere a história da mulher através dos anos.

Durante os 10 episódios, a parte sobrenatural da série se assemelha bastante a missões de sessões de RPG (role-playing game), e digo isso como um elogio, já que a história é tão imersiva, a narrativa é tão fluída que aos que já jogaram RPG conseguem fazer facilmente essa relação. Isso se estende ao episódio final, que é recheado de surpresas, ações, monstros e rituais gigantes, acompanhado de uma trilha sonora impecável, isso tudo faz com que a imersão na história seja completa, causando uma experiência única no encerramento da trama.

Ao fim, “Lovecraft Country” prova que as grandes heroínas são as mulheres negras que mostraram sua excelência através da sua força, garra e ainda mostraram ser capazes de proteger gerações criando homens íntegros para a proteção de uma herança sobrenatural. Sem dúvidas, a série foi o melhor e maior marco da HBO no ano de 2020, tanto que rendeu a indicação de Melhor série dramática no Globo de Ouro de 2021 e 5 indicações ao Emmy 2021.

A série está disponível na HBO MAX.

Nota: 5/5

Autor do Post:

Ludmilla Maia

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25 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.

Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.

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