CRÍTICA | Com doses de otimismo e humanidade, Ted Lasso é a comédia mais necessária do ano

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A última coisa que eu poderia esperar nessa altura de 2021 seria ficar apaixonada por um clube de futebol fictício, torcer como se fossem jogos reais e ficar triste com o rebaixamento de um time que nem existe, mas Ted Lasso fez isso comigo. Com apenas 10 episódios de trinta minutos, a série do AppleTV+ emplacou uma temporada perfeita que retrata com humor algo que tem feito falta na TV nos últimos tempos: a humanidade. 

Não foi atoa que Ted Lasso conseguiu nada mais nada menos que 20 indicações ao Emmy 2021 em sua temporada de estreia, batendo o recorde de série mais indicada em seu primeiro ano e de série de comédia mais indicada para a premiação esse ano. Entre as indicações estão a de melhor série, melhor ator, melhor atriz coadjuvante, melhor ator coadjuvante, a melhor direção, melhor roteiro e melhor edição de série de comédia.

Em tese Ted Lasso é sobre um técnico de futebol americano que é contratado pela dirigente do clube Richmond para treinar o time da Premier League e impedir o rebaixamento eminente. No entanto se começamos a série entendendo que existe ali alguma jogada de fé que fará um técnico sem conhecimento do esporte salvar o time, ainda no final do primeiro episódio entendemos que foi tudo planejado para fazer com que de fato o time fosse rebaixado e tivesse os piores desempenhos possíveis, para a conclusão de uma vingança pessoal de Rebeca (Hannah Waddingham), a dona do clube.

É fato que o primeiro episódio não me pegou de primeira, talvez a estranheza em ver uma série tão inusitada tenha afetado a minha experiência, mas no momento em que entendemos a grandiosidade aqui em vista, fica difícil não se prender.

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Assim como os jogadores do Richmond, somos surpreendidos com estranhas aulas de humanidade, e claro que em um mundo atual isso possa soar completamente doido, mas é devagarzinho que o roteiro da série cria um apego com a história, com os personagens e com tudo que envolve aquele universo. De repente estamos torcendo para um time que não existe alcançar resultados reais pelo bem dos jogadores, dos técnicos e até dos torcedores reais daquele universo, e claro que uma série que fala sobre humanidade não poderia criar ilusões de melhoras repentinas ou grandes milagres, ela joga com o que tem em mãos, com o possível. E é isso que a torna real. 

Parte do mérito de Ted Lasso se dá pela interpretação de Jason Sudeikis. Se inicialmente ele parecia o grande clichê do caipira sonhador que embarca para outra cidade cheio de anedotas e lições de moral na bagagem, descobrimos nele um homem simples, com frustrações no caminho e um relacionamento fadado ao fracasso. A atuação de Sudeikis entrega a humanidade de Ted Lasso como algo não apenas possível, mas facilmente praticável. Se terminei cada episódio com uma sensação de querer sempre ser alguém melhor, parte foi culpa dele e a outra parte foi pelo roteiro leve, divertido e real. 

Fosse no detalhe de preparar um bolo todas as manhãs para alegrar a chefe ou ensinar sobre trabalho em equipe para o melhor jogador, Ted se mostra o tipo de pessoa que queremos ser amigos, embora pareça quase uma caricatura de tempos atrás.

Foi nos momentos de maior agonia que a série se mostrou mais brilhante, como revitalizar um grande jogador prestes a encerrar a carreira ou lidar com as piores criticas da torcida. Ted Lasso mostra devagarzinho como o futebol pode ser também um espaço de aprendizado, fé e humanidade.

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Um bom roteiro consegue tirar leite de pedra, e é assim que assistimos em segundo plano a redenção de Rebeca, que vai de vilã a quase heroína passando pelas fases de auto descoberta e se encontrando como alguém muito melhor, alguém que foi vitima de um relacionamento abusivo e problemático, e esqueceu suas melhores características. Rebeca é a representação do que nós, enquanto telespectadores, queremos ser. Uma vitima do jeito Lasso.

Sua amizade com Keeley (Juno Temple) é um dos pontos mais altos da série, com a mesma dose de humanidade e carinho que queremos ter em nossas vidas, independente da idade e dos erros cometidos. É um conforto ver duas mulheres com espaços e vivências tão diferentes lidando constantemente com um esporte ainda tão dominado por homens. E é Keeley ao lado do capitão Roy Kent (Brett Goldstein) quem protagoniza o inicio de um novo casal que, até então, parecia extremamente improvável. Mas que de certa forma combina totalmente com a ideia da série.

Se Ted Lasso fala constantemente sobre acreditar, é racional que nos encontremos dentro da história torcendo pela vitória do time, pelo crescimento pessoal dos jogadores, rindo de bobagens como um ritual para afastar o azar do vestiário do time ou encontrando carinho na rivalidade entre dois jogadores.

A trilha sonora da série inclusive parece casar com o sentimento de Acreditar e a cada fim de episódio é possível sentir a tristeza por 30 minutos passar tão rápido, junto ao conforto de tempo bem gasto.

Claro que Ted Lasso é brilhante, é divertido e é confortável. Claro que é digna de premiação, vide suas 20 indicações. Mas a melhor coisa dessa série é sentir que tudo é muito possível. É uma sensação que era comum em séries dos anos 2000 como Gilmore Girls ou One Thre Hill, é uma sensação que lembra um pouco This Is Us, com todas as suas camadas dentro de personagens simples e todo o aprendizado sobre julgar menos e perguntar mais. Ted Lasso é sobre fazer a famosa limonada com os limões mais azedos do jardim. É simples, é humana e é fenomenal. 

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Nota: 4,9/5

Autor do Post:

Yara Lima

administrator

Uma das fundadoras da Tribernna, estudante de comunicação social, nordestina e periférica. Divide o tempo entre ler, dormir e escrever por ai!

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