Quando se trata de filmes de terror é impossível não citar nenhuma obra do grande mestre Stephen King e, é mais impossível ainda, não citar a única adaptação de suas obras que possui um Oscar. Misery, ou Louca Obsessão, é um filme intenso dos primeiros minutos até o seu encerramento e mesmo trinta e um anos após o lançamento da adaptação nos cinemas, ele ainda é frenético e completamente assustador.
O filme de 1990 dirigido por Rob Reiner tem como base o romance publicado por King em 1987. No suspense psicológico, Kathy Bates dá vida a assustadora enfermeira Annie Wilkes, que resgata Paul Sheldon (James Caan), seu escritor favorito, de um acidente durante uma forte nevasca. Usando a desculpa de cuidar de seus ferimentos até que as estradas estejam livres do perigo, Annie acaba aprisionando Paul e o força a escrever uma nova história sobre Misery Chastain, personagem principal de sua história favorita, após descobrir que ela morre no último livro do escritor.
O filme lançado nos anos 90 em uma era pré-internet consegue manter o terror através da icônica atuação de Kathy Bates, uma época em que o famoso “stalkear” ainda não era um verbo comum no mundo. Todo o conhecimento que Annie possui sobre Paul, seu escritor favorito, poderia passar batido ou ser algo comum dado toda a construção de grande escritor que o filme introduz em seus primeiros minutos. No entanto a partir do momento em que ela possui poderes sobre as vontades de Paul todo esse conhecimento vira arma, e das mais perigosas.
Annie revela comportamentos tóxicos e absurdos que dentro das redes sociais atualmente não parecem tão surreais assim. A quantidade de fãs que se tornam ‘haters” de obras favoritas por discordar da conclusão ou do andamento que os roteiristas ou escritores dão para as suas adaptações ou obras originais mostra que, embora percursora, Annie não foi a única. A diferença é que o aprisionamento do autor foi trocado por mensagens de ódio e grandes boicotes e/ou cancelamentos. Talvez esses elementos atuais tenham feito o filme envelhecer como um bom vinho, e se tornado um clássico atemporal.
Ao longo dos 106 minutos de filme conseguimos sentir todo o medo e pavor que o Paul sente, as atuações e a ambientação funcionam tão bem que enquanto telespectadores podemos sentir o terror da exposição, ainda mais assistindo o filme em 2021 quando todas as informações sobre nós estão disponíveis por vontade própria em nossas redes sociais. Então talvez todo o conhecimento que a Annie possui possa parecer bobo, afinal não tem nenhuma informação muito pessoal, apenas coisas que o próprio Paul já disse na mídia ou em entrevistas por ai. No entanto a partir do momento em que ele vira um refém dela e de suas alterações de humor isso tudo vira um pesadelo.
A trilha sonora composta por Marc Shaiman é um espetáculo a parte, Shaiman que contribuiu para várias obras conhecidas do cinema como Hairspray, Mudança de Hábito, A nova Onda do Imperador e outras dezenas de filmes, entregou uma trilha a altura de grandes clássicos de terror da mesma época. A música cresce no filme assim como as atitudes da Annie, inicialmente ela é calma e tranquila, quase imperceptível, mas conforme o filme avança ela se torna intensa e assustadora. Até o grande clímax na escada com o xerife se torna ainda mais memorável graças a Shaiman.
Para quem leu o livro, o filme é um grande presente, por ser bastante fiel a história original e inclusive manter vários diálogos exatamente da mesma maneira, ele se torna um deleite a parte. No entanto, para quem não leu a obra fica a informação de que não existe a menor necessidade para uma ideia de conhecimento prévio, mas é altamente recomendado por ser uma obra igualmente potente e eletrizante.
Annie Wilkes é apavorante e totalmente imprevisível, suas alterações de humor e a capacidade de culpabilizar o inocente colocam a atuação de Kathy Bates no hall das melhores entre os filmes de terror da época. Não atoa rendeu a Bates o Oscar de melhor atriz no longa, que o próprio King coloca entre as suas dez adaptações favoritas entre suas obras. Fica para James Caan o papel de vitima que entrega um Paul Sheldon fragilizado, assustado e que aprende no convívio com Annie as maneiras mais absurdas de se entregar a história, até virar o jogo a seu favor.
Louca Obsessão é intrigante, elétrico e muito bom. Enquanto a história alterna entre as torturas psicológicas e físicas causadas por Annie e as investigações do xerife da cidade é possível sentir os 106 minutos passar em instantes. O roteiro entrega uma história fechada, traumatizante e atemporal, não atoa encerra mostrando os efeitos da violência e cárcere vividos por Paul Sheldon. 31 anos depois e o filme funciona melhor que nunca.
Esse texto faz parte do Trilloween, o especial de halloween da Tribernna, o filme está disponível no Apple TV.
Nota: 5/5
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Autor do Post:
Yara Lima
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Uma das fundadoras da Tribernna, estudante de comunicação social, nordestina e periférica. Divide o tempo entre ler, dormir e escrever por ai!