CRÍTICA | “And Just Like That” tenta renovar o clássico ignorando a história original

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O sucesso dos anos 90, considerado por muitos à frente de seu tempo, com um roteiro moderno, explorando a sexualidade de forma mais livre em uma época (mais) machista, Sex and the City ganhou um revival no ano passado intitulado “And Just Like That“, referência direta à frase dita por Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), em sua narração na série de origem.

A dramédia se desloca do seu antecessor logo de cara, visto que toda leveza e formato sitcom que a série trazia consigo é transformado em um drama mais longo, com uma abordagem mais séria, assuntos mais intensos e despedida de personagens marcantes. É claro que a série ainda tem sua marca registrada vivíssima, trazendo em sua trama assuntos polêmicos, atuais e considerado por muitos um grande tabu.

No entanto, essa mudança de perspectiva que a série ganhou causa uma certa estranheza aos fãs que acompanharam o original. Até mesmo a interação entre as amigas, que agora são só três, parece mais densa do que acompanhamos durante todos esses anos. Ainda que compartilhem uma amizade forte, são contempladas com intrigas que não condizem com a idade delas, por muitas vezes tendo comentários e atitudes egoístas, o espectador passa a se perguntar se é realmente saudável manter esse grupo de amigos que só se apoiam se tiverem a aprovação de Carrie.

Como dito, de quatro agora temos apenas três amigas, mas isso não foi empecilho para a série não inserir Samantha ao enredo. Como os fãs já sabem, Kim Cattral (Samantha) e Parker (Carrie) não compartilham uma boa relação, protagonizando diversas brigas públicas, o convívio entre as duas já era horrível desde das gravações da série, mas isso nunca foi comprovado de fato na época, até o segundo filme da franquia em que tudo foi jogado para o público. Sabendo disso, a produção da série insistiu em manter a figura da Samantha viva na trama, dando pontas em formas de mensagens de texto ou menção de uma briguinha (que não faz sentido algum com tudo que já vimos sobre a personagem). No fim, preferia que ela nem tivesse sido mencionada… o fato de usarem o nome de uma personagem tão icônica apenas para atrair o público, sabendo que não há possibilidade real dela retornar, chega ser imoral da parte dos roteiristas.

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E Samantha não foi a única que ganhou ações incoerentes com a sua história. Miranda (Cynthia Nixon) talvez tenha sido o maior desserviço desse revival. Com o propósito de ter mais inclusão, a trama apaga todo desenvolvimento e trajetória da personagem apenas para inserir de forma engessada uma descoberta da personagem. Não vou me estender mais para não dar spoiler, porém é preciso deixar claro que Miranda sempre foi um destaque dentro de Sex and the City por ter um estilo tom boy e não ser inserida a um estereótipo de sexualidade, tirar isso da personagem apenas cede a um fanservice que não respeita a sua história e o peso da sua importância. 

Por outro lado, Charlotte (Kristin Davis) foi a grande estrela de And Just Like That, tendo um desenvolvimento e amadurecimento condizente, a personagem passa de “a menos querida” para “a mais popular”. Inserida dentro de uma trama mais inclusiva, seja no espectro de gênero ou racial, Charlotte protagoniza arcos que provam que é possível ter uma história mais inclusiva sem ser apelativa, e muito menos sem ignorar todo processo criativo de 20 anos atrás. 

Quanto aos personagens novos, não há muito o que dizer. Com exceção de Che (Sara Ramírez) que fica totalmente deslocada e forçada na história, os outros contribuem na medida do possível dentro dos arcos individuais das protagonistas. Alguns trazem consigo um pouquinho da essência de Sex and the City, como a nova amiga de Carrie, Seema (Sarita Choudhury), que parece uma mistura de Samantha e Charlotte. 

Por fim, fica claro ao fim que And Just Like That endossa o comportamento problemático e egoísta de Carrie, que ainda tem um senso fashion impecável, garantindo algumas referências saudosistas aos olhos mais atentos. Uma história que não tem muito propósito, além de desrespeitar o clássico, entretém na medida do possível, mas graças a Charlotte e alguns dos personagens novos.

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Eu poderia discorrer por muitas linhas sobre a importância do luto, como a série trouxe camadas diferentes da protagonista que tenta se readaptar ao novo cenário de sua vida, mas seriam falas superficiais, como a série. Sem o brilho da irreverência e novidade de Sex and the City,  o revival fracassa em remodelar o que já era bom, ainda que force um pouco na diversidade, agrada ao utilizar ela da maneira mais correta e respeitosa, ajudando o desenvolvimento de personagens cruciais.

Os 10 episódios estão disponíveis na HBO MAX.

Nota: 3,1/5

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Autor do Post:

Ludmilla Maia

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25 anos. Criadora e uma das fundadoras da Tribernna, escrevo pra internet desde 2016. Amo podcast como amo cultura asiática e heróis. Nas horas vagas, concurseira e bacharel em direito.

Um dia eu te conto o que significa o nome “Tribernna”.

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