CRÍTICA | “The Dress” e a constante do tom amargo em narrativas para impactar

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Indicado ao Oscar 2022 na categoria de Melhor Curta-Metragem em Live Action, The Dress do diretor e roteirista polonês Tadeusz Łysiak, é mais um exemplo de como homens acabam por vezes querendo denunciar um problema ao chocar com alguma provocação, e emitindo o resultado contrário de suas intenções.

‘The Dress‘ conta a história de uma mulher com nanismo que trabalha em um motel decadente na zona rural da Polônia como empregada doméstica. A partir das visitas de um homem interessante no local, ela vê com esperança uma chance de interação amorosa.

Em seus primeiros minutos, a obra nos apresenta ao cenário monótono que dita a rotina de Julia (Anna Dzieduszycka). De forma bem evidente, a fotografia azulada já nos dá a impressão de solidão e tristeza no qual a personagem é inserida, tanto em seu exterior como no interior. Existe uma revolta contida em seu emocional pela forma como ela é tratada, e como ela mesma se enxerga por conta disso. Porém, o preconceito com sua aparência se revela mais como uma condição imutável na narrativa, de forma que os poucos momentos em que a personagem é encorajada a se amar como é, são esmagados pelas chocantes cenas seguintes.

Apesar de incluir uma questão muito importante como o amor próprio, e a sororidade entre Julia e sua colega de trabalho, o diretor retrata esses pequenos momentos como fatores que acabam a levando a um destino amargo. Ainda que sejam as cenas mais bonitas, tanto em questão narrativa como no aspecto visual (com mais cores na fotografia), a impressão que fica é que essa busca por valorização precisa vir de fora, e que a esperança só a levou a caminhos mais escuros.

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É um pouco cansativo quando nos deparamos com mais um diretor homem que retrata cenas explícitas de violência física contra a mulher, com o propósito de chocar e para estimular um debate. No curta, a cena funciona como um ponto de virada, mas também revela um tom amargo que condiciona uma mulher que já era muito oprimida, a se sentir ainda pior. Pois além de suas conversas com a colega, ela teve esperanças e foi punida por isso. É revoltante e muito triste ver esse recurso sendo utilizado como forma de dialogar que existe um mal na sociedade. O vencedor de roteiro original do Oscar no ano passado, Bela Vingança, é o exemplo perfeito de como retratar de forma eficiente um problema na sociedade machista e opressora, sem precisar expor o ato da violência em si.

Com isso, é perceptível que por mais que tenha tentado, Tadeusz não foi capaz de ter a sensibilidade necessária para conduzir a trama em questão. Ainda que com boas intenções e uma técnica visual interessante, o curta termina por emitir um resultado contrário ao que parecia se encaminhar. Se mostra mais como uma obra que silencia o terror cometido e ofusca qualquer chance de redenção. Ainda mais por não retratar qualquer informação sequer sobre os interesses e a personalidade da protagonista. Como se ela fosse condenada a viver com raiva de seu corpo, e em busca de uma validação através de relações amorosas inexistentes ou frustradas.

Nota: 2,5/5

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Autor do Post:

Bruna Berlitz

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Crítica de cinema e graduada em Produção Multimídia. Experiência na área do audiovisual, com ênfase em filmagens e edição de vídeos. Essencialmente da casa Lufa-Lufa, apaixonada por gatos e admiradora das obras de Jane Austen.

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