CRÍTICA | ‘Vai dar nada’ diverte, surpreende e faz pensar

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Nesta quarta-feira (18/05) estreia Vai dar nada, o primeiro longa-metragem brasileiro original Paramount+. O filme é escrito por Guel Arraes e Jorge Furtado, e dirigido por Furtado e Ana Luiza Azevedo. A comédia conta a história de Kelson (Cauê Campos), um jovem ladrão de carros e motos que usa a sua motocicleta para escapar da polícia e conquistar seu amor.

À primeira vista, o filme parece ser mais uma comédia escrachada brasileira que brinca com o ‘jeitinho brasileiro’ e a vida marginal, mas o roteiro consegue tratar de pessoas que vivem nas margens (da sociedade e da lei) sem cair em estereótipos negativos.

Vai dar nada nos diverte, gera boas gargalhadas em quem está assistindo. O filme é uma comédia sem tramas muito profundas, mas por cada personagem no núcleo central ter seu próprio desenvolvimento, o primeiro ato do filme pode gerar uma confusão pela rápida apresentação de tudo. Porém, quando o filme engrena o roteiro encontra seu tom e consegue desenvolver todos com qualidade. A direção alcança todos os seus objetivos, além de ter a ajuda de atores muito talentosos e com uma veia cômica refinada. A direção também se aproveita muito bem da trilha sonora (que é quase um personagem do filme) para ambientar e colocar o tom certeiro na obra.

O núcleo principal no elenco conta com nomes como Cauê Campos (‘D.P.A.’), Jéssica Barbosa (‘Besouro’), Katiuscia Canoro (‘Zorra Total’; ‘Tô Ryca’) e Rafael Infante (Porta dos Fundos). A química entre os atores é nítida em tela, o que favorece bastante a dinâmica. Katiusca, que interpreta a policial Suzi, e Rafael Infante, que interpreta o malandro Fernando, estão acostumados com papéis como estes e dão uma aula em tela. O Cauê sai do espectro de personagens infantis, como o conhecemos em Detetives do Prédio Azul, e dá vida ao malandro, charmoso e confuso Kelson, que quer crescer na vida às margens da lei, mas sem quebrar seus códigos.

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Créditos: Fábio Rabelo

O filme brinca bastante com essa conversa entre a lei constitucional e os códigos morais. Seja em conversas explícitas como os diálogos entre Kelson e Edmundo (Nicolas Vargas), ou em piadas e situações que deixam implícitas a sua crítica. Em várias cenas podemos perceber críticas ao sistema e corporação policial, ao capitalismo e à falsa moralidade que cerca a sociedade, como por exemplo através da corrupção. Além dessas questões o filme também perpassa sobre pautas como racismo e sexualidade, mas sem em nenhum momento deixar o tom mais pesado ou uma carga densa na trama.

Um dos grandes acertos de ‘Vai dar nada’ é trazer protagonistas negros e marginais, mas sem cair no estereótipo negativo que normalmente cerca essas representações, principalmente em comédias. Como a Katiuscia Canoro falou em entrevista coletiva, “estereotipar esses personagens seria um desrespeito, porque não é esse o objetivo do Jorge [Furtado] e o Guel [Arraes] quando eles pensam nesse filme, existe uma crítica forte aí”.

Créditos: Fábio Rabelo

A Paramount+ estreia muito bem no cenário dos longa-metragem no Brasil. Vai dar nada é um filme leve, divertido, mas não raso. Se continuar nesse nível, podemos esperar coisas muito boas do streaming em produções nacionais.

NOTA: 4,5/5

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Autor do Post:

Hector Sousa

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Sergipano. Bacharel em Cinema e Audiovisual. Cineasta, podcaster e improvisador. Escreve para Tribernna sobre cultura pop. Amante daquele pagodinho e fã do Miles Morales.

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